[I] Os críticos de arte e comentadores da obra de Partenheimer, sejam eles europeus, chineses ou brasileiros, freqüentemente apontam para o caráter meditativo, aéreo, alegre, imaginativo, e até mesmo lírico de seus desenhos e pinturas, sem esquecer, obviamente, do enigmático equilíbrio que torna sua obra inconfundível, e do silêncio que parece habitá-la (que se pense nas séries do Diário Romano, de Carmen, de De Coloribus, de…
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São conhecidas as divergências a separar as tribos urbanas que praticam a pichação e o grafite: enquanto a primeira modalidade vem da periferia, é prática ilegal e transgressora expressa através da escrita, e não se configura necessariamente como arte, a segunda vem da classe média, considera o pixo vandalismo, se expressa através da imagem e reivindica o estatuto de arte. Mas, apesar da rivalidade que contrasta as modalidades de street art, há um ponto de convergência: ambas criam realidades paralelas na superfície das cidades.
Para fazer ver como isso acontece, escolhemos confrontar um artista do pixo de São Paulo, Rafael Augustaitiz, a um artista do grafite de Porto Alegre, Amaro Abreu. Ambos são jovens cuja produção está nas ruas dessas capitais, mas não só – também se expressam em outros suportes, com outros materiais, sob a forma de desenhos, pinturas, vídeos…
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O pixo de Rafael Augustaitiz é uma realidade paralela porque sua produção se apropria de São Paulo para criar uma cidade fantasma, invertida, refletida no espelho do demônio. Sob a ótica do apocalipse, do 666, signo da Besta, do pentagrama de ponta-cabeça, procura-se instaurar a metrópole do mal, em resposta à banalidade da injustiça e da desigualdade estabelecidas. Nesse sentido, a própria São Paulo, seu urbanismo e seus edifícios servem de base para a passagem para uma realidade outra. Pois a estratégia de Rafael Augustaitiz consiste em enfrentar, literalmente, sua cidade, para arrancar de dentro dela o seu avesso.
Na intervenção do pichador a metrópole é transfigurada; já no trabalho de Amaro Abreu transfigurados são os humanos. Agora estamos diante de uma outra espécie que vem povoar os muros da cidade, negando a própria vida urbana, tal como a conhecemos. Tais seres pertencem a uma realidade paralela surreal, misto de pesadelo e sonho, cuja existência instável, efêmera, inconsistente, prestes a colapsar pretende solapar pela dimensão onírica, a crueza da selva urbana. Assim, Amaro Abreu filia-se à linhagem dos grafiteiros brasileiros que buscam inserir no cotidiano dos humanos não a cidade fantasmagórica, mas sim a existência diáfana de gnomos, monstros, híbridos. Agora o centro urbano não é mais invadido por signos apocalípticos, mas por uma população larvar que o filósofo Etienne Souriau qualifica como “existências mínimas”.
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Sobre
Com curadoria de Laymert dos Santos, a “Pixo/Grafite: Realidades Paralelas” apresenta obras dos artistas Rafael Pixobomb, Amaro Abreu e busca colocar em diálogo duas produções artísticas que se originam no grafite e no pixo. O interesse da confrontação consiste em expor face a face trabalhos que se fundamentam em diferentes concepções sobre o modo de intervenção no espaço urbano e arquitetônico. Além de apresentarem vídeos, pinturas, gravuras e desenhos na galeria do Goethe-Institut Porto Alegre, os artistas realizam também uma intervenção no muro do Instituto. No dia da abertura, Pixobomb e Amaro realizam um bate-papo com o curador e a mestra em História, Teoria e Crítica de Arte Adauany Zimovski na galeria.