O Natal diabólico de Bill e Alice
Em "De Olhos Bem Fechados", Stanley Kubrick torna visíveis os mecanismos contemporâneos de recalque do desejo
Em "De Olhos Bem Fechados", Stanley Kubrick torna visíveis os mecanismos contemporâneos de recalque do desejo
Há poucos dias, o caderno Mais! publicou, entre as "Cartas para as Futuras Gerações" que a Unesco encomendou a personalidades mundiais, um texto de Nadine Gordimer intitulado "A Face Humana da Globalização". Nele, a questão do consumo encontra-se no cerne das preocupações da escritora sul-africana e de sua argumentação. É que, em seu entender, a globalização só seria efetivamente global se o desequilíbrio do consumo fosse…
Há dez anos, o poeta e dramaturgo alemão Heiner Müller deixou claro, numa entrevista, que não via Auschwitz como um desvio ou exceção, mas sim como altar do capitalismo, último estágio das Luzes e modelo de base da sociedade tecnológica. Auschwitz seria o altar do capitalismo porque ali o homem é sacrificado em nome do progresso tecnológico, porque o critério da máxima racionalidade reduz o homem…
Escrever logo após uma primeira visão de "Dançando no Escuro" é escrever em estado de choque. Um filme que, ao terminar, deixa o espectador sem fala, suscita mais do que a análise e, antes dela, a tentativa de ordenar e consolidar o que aconteceu e o que se percebeu, para saber por que o impacto é tamanho. São muitas as entradas possíveis no filme de Lars…
Fredric Jameson tem insistentemente afirmado a ocorrência, desde os anos 60, de uma "virada cultural" que expressa o modo como a lógica do capitalismo avançado sobrepõe economia e cultura, fazendo com que tudo se torne cultural, inclusive a produção de mercadorias e a alta finança especulativa, ao mesmo tempo em que a cultura se torna profundamente econômica e mercantilizada1. Mas caberia perguntar se a "virada cibernética" configurada…
Em 1990, o filósofo Gilles Deleuze escreveu em "Post-Scriptum Sobre as Sociedades de Controle": "Trata-se de um capitalismo de sobreprodução. Não compra mais matéria-prima e já não vende produtos acabados: compra produtos acabados ou monta peças destacadas. O que ele quer vender são serviços e o que quer comprar são ações. Já não é um capitalismo dirigido para a produção, mas para o produto, isto é,…
“Considerando a centralidade da tecnociência hoje, não há como trabalhar a sociedade contemporânea se não discutirmos seu papel e o conseqüente impacto das novas tecnologias na sociedade”. A afirmação é do professor Laymert Garcia dos Santos, do Departamento de Sociologia, que acaba de lançar o livro Politizar as novas tecnologias, obra que reúne artigos publicados ao longo dos anos 90. Para abordar o tema central, o…
Não se pode pensar o papel dos meios de comunicação no Brasil exatamente com as mesmas categorias com que os teóricos dos países industrializados pensam o problema. Por uma razão muito simples: porque elas não se aplicam aqui da mesma maneira. Nos Estados Unidos ou na Europa, o ponto de partida é uma pergunta dupla: por um lado, o que os meios produzem para a massa…
“O caso Snowden é o último elo de uma cadeia que vem vindo de várias outras que já entenderam o enorme potencial das redes, de politizar as questões simplesmente pela circulação dos fluxos de informação. Por quê? Porque se o Estado e o mercado podem saber tudo sobre a população, explorando isso do ponto de vista do controle, por outro lado os movimentos também podem.” A…
Desde a primeira publicação de “Hegel, Texas”, em 1993[1], Hermínio Martins tem dedicado parcela importante de seu trabalho a uma intensa reflexão de cunho epistemológico, que visa compreender a escatologia contemporânea em suas duas grandes vertentes: o “experimentum mundi tecnológico em curso” e o “experimentum humanum”, isto é o “Grande Experimento”, o “projecto do ‘Experimento-sobre-o-Homem’, pelo Homem”[2]. Tal estudo, expresso ao longo de todos esses anos…